O futebol diz que somos 11 milhões a apoiar 11 em campo. Já avisaram os senhores da campanha que não é bem assim. Há mais de 2,3 milhões de portugueses em diáspora. Ou seja, há mais 20% de pessoas que nasceram neste país, mas já cá não estão. A fome ou apenas a dignidade são a explicação. O instinto de sobrevivência obrigou-os a isso. Sim, foram obrigados. Ninguém sai de onde tem paz. E nós, os outros 11 milhões que cá ficaram, o que fazemos?

Vamos sintonizar a televisão para o próximo Europeu de Futebol, porque queremos acreditar que aqueles 11, a quem colocaram as nossas quinas ao peito, serão capazes de elevar o nome de Portugal. Nós, os outros 11 milhões, vamos ficar a assistir sentados. Cansamo-nos menos. É isto, se calhar andamos mesmo cansados e por isso não nos reinventamos, alguém o há-de fazer por nós, mesmo que não tenha nascido português. E nós, os que somos desta raça e que andamos às ordens do fisco, do psd, do ps, do be, do pcp, do cds e até do pan, iremos continuar como um qualquer sempre em pé. Não tombamos, não contrariamos, mas também não caímos. Morremos de pé.

Hoje é Dia de Portugal e de Camões, mas é, sobretudo, o Dia das Comunidades Portuguesas. As famílias haverão de comentar isso mesmo, logo à noite, quando conversarem pelo skype.

António Travassos

(médico oftalmologista)

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