É a mãe que começa esta comunicação que se constrói entre filhos e pais. Primeiro com o contacto pele com pele, depois com gestos simples que, irão construir uma tríade insubstituível. O apego é a base segura que o bebé necessita para se aventurar.

Os relacionamentos são fundamentais nas nossas vidas e, quando chegamos a este mundo, iniciamos uma primeira relação com a nossa mãe. Será a partir daí que fixaremos os padrões de conduta e normas que vão determinar todos os outros relacionamentos da nossa vida. O oposto também é verdade e diversos estudos têm demonstrado que os bebés que não tiveram contacto físico e que não estabeleceram relações afetivas, apresentam um maior risco de adoecer e até de morrer.

O vínculo é amor e é tão necessário à sobrevivência quanto os próprios cuidados.

A formação do vínculo inicia-se, principalmente, através do contacto corporal e do significado simbólico que a mãe atribui a esse contacto. O toque e a sua qualidade são fundamentais. O caráter qualitativo sobrepõe-se ao quantitativo. O mais importante não é dar de mamar ou acarinhar, mas sim a forma como se dá de mamar, como se fala com o bebé, como se acarinha ou embala.

Há umas décadas atrás, pensava-se que os bebés não possuíam inteligência, sendo considerados “tábuas rasas” e por isso, preconizava-se não dar colo, tal como não se incentivava o contacto físico, com o argumento de que estes gestos enfraqueciam a vontade e a autonomia da criança. Atualmente, esta ideia considera-se errada e prejudicial ao desenvolvimento da criança e relação afetiva entre pais e filhos. Nos últimos anos, graças à investigação e à tecnologia, o conhecimento sobre a psicologia do bebé aprofundou-se infinitamente, levando ao desenvolvimento de diversas teorias sobre a Vinculação.

Sabe-se hoje, que o bebé quando nasce, já apresenta alguma aprendizagem adquirida, na sua curta vida, dentro do útero materno. À medida que se vai desenvolvendo, adquire competências, ouve, vê precocemente e é capaz de saborear os alimentos que lhe chegam pelo sangue do cordão umbilical. Nos últimos meses de gravidez, o feto, já mais maduro, sente a mãe através das paredes do útero, sensação que é reconfortante e que permanecerá na sua memória.

Com o parto e o corte do cordão umbilical, o recém-nascido começa a respirar autonomamente Este é o momento que, simbolicamente, representa o primeiro passo de separação da mãe, no entanto, esta vinculação continua. O recém-nascido necessita de cuidados físicos e afetivos. O mundo que agora sente é para ele uma ameaça e as novas experiências perturbam-no… A presença da mãe/ pai/ cuidador principal é fundamental, e deve ser uma constante, pelo que se deve estimular esta relação, revestindo os cuidados de amor, ou seja de vínculo afetivo.

Assim, o amor resulta de três modalidades, desencadeado e fortalecido por fatores biológicos: a estimulação materna pelo movimento que embala o bebé; o toque ou contacto físico e o uso do olfato. A interação destes três estímulos constitui o fundamento das três dimensões psicológicas do Amor que são a confiança básica, o prazer do vínculo amoroso, e o prazer do vínculo da intimidade. Esta é a explicação do Amor! O amor que todos desejamos, nasce desta relação vinculativa, cujo início deve ocorrer o mais precocemente possível.

Ao perceber as vantagens da vinculação, é necessário desenvolvê-la e estimular os pais nessa viagem. O contacto pele com pele, que se inicia na vida uterina, é fundamental e constitui a primeira forma de comunicação entre mãe e filho. Depois da entrada neste mundo, a construção desta relação insubstituível, na tríade mãe – pai – bebé deve continuar a ser alimentanda com gestos muito simples. Confortar sempre que o bebé chora e acarinhar sem limites, tocar e favorecer o contacto pele com pele, falar/ cantar para o bebé, fazer festinhas e pegar ao colo constituem formas simples, mas grandiosas, na construção de vínculos seguros. A partilha positiva de afetos, própria de uma vinculação profunda, permite ao recém-nascido sentir-se emocionalmente seguro e satisfeito. O Apego é uma variante do vínculo afetivo desenvolvido pelo indivíduo em relação a outra pessoa. O Apego constitui um acréscimo na sensação de segurança. O sentimento do bebé em relação aos seus pais é um apego, na medida em que sente nos pais a base segura para explorar e conhecer o mundo à sua volta.

 

Bem-me-quer

 O toque assume uma importância vital em cada fase de desenvolvimento da criança. O vínculo que nasce ainda na vida uterina deve continuar a ser alimentado nas várias fases de desenvolvimento da criança.

A vinculação é vital entre o nascimento e os dois anos de idade. Os benefícios passam pela criação de relações entre pais e filhos mais fortes e positivas, redução da dor, das cólicas e melhoria do padrão de sono.

Entre os três e os cinco anos, no denominado período da descoberta, as crianças vinculadas de forma segura revelam-se, mais curiosas, competentes, sociáveis, independentes na escola, mas que procuram ajuda quando necessitam.

A partir dos seis e até aos doze, o conforto vinculativo dá origem a crianças com maiores níveis de socialização, competência social, assertividade, auto estima e satisfação com a vida.

Na adolescência os pais serão o exemplo, demonstrando que das vinculações seguras na infância, resultam jovens emocionalmente mais saudáveis, com auto estima, resistência e competentes nas relações com os outros. O apego será a base necessária para uma vida repleta de relacionamentos saudáveis e irá construir o caminho da personalidade de cada indivíduo.

Ana Filipa Sousa

(enfermeira)

 

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