As empresas americanas Apple e Facebook acabaram por abrir a discussão, quando anunciaram que pagam a congelação de ovócitos às funcionárias que queiram adiar a maternidade. Por cá, o assunto ainda não é apresentado pelas empresas, mas pode ser uma opção individual

A manutenção do potencial de fertilização de uma mulher é a razão que está na base da vitrificação de ovócitos. Foram os avanços na área da Procriação Medicamente Assistida (PMA), com a melhoria dos meios de cultura e a descoberta de crioprotetores adequados, que tornaram a criopreservação de ovócitos uma técnica promissora para as mulheres que querem preservar a fertilidade. Mas, às questões profissionais e ao receio em conciliar uma atividade profissional intensa com a maternidade, podem e devem juntar-se outras situações. Adiar a maternidade, nunca é a melhor opção. A idade é, por si só, um fator limitante na vida reprodutiva da mulher, sendo esta a principal causa da incidência da infertilidade.

A necessidade de preservar a fertilidade deve ser uma opção para mulheres com patologia do ovário, como tumores benignos bilaterais ou endometriose, porque estas são situações que podem levar a um esgotamento precoce da reserva folicular. Algumas patologias genéticas ou endocrinológicas acarretam risco de menopausa precoce e, nestes casos, o diagnóstico é feito em mulheres ainda jovens e sem um projeto de parentalidade.

A preservação da fertilidade é também uma indicação nas mulheres com cancro que, um dia mais tarde, quando curadas, desejem ser mães. Nestes casos, o risco de infertilidade, associado ao tratamento do cancro, nem sempre é uma informação divulgada às doentes em idade reprodutiva, contudo, a recolha de ovócitos pode e deve ser feita antes de se iniciarem os tratamentos de quimioterapia, condição que por vezes é esquecida.

Existem várias técnicas que permitem manter a fertilidade da mulher destacando-se a criopreservação de tecido ovárico, de ovócitos ou de embriões. A criopreservação ou vitrificação de ovócitos é a técnica mais utilizada e apresenta vantagens evidentes. Com a criopreservação de ovócitos não é necessária a cirurgia laparoscópica, que é imprescindível no caso do tecido ovárico, não possui as implicações éticas e legais referentes à congelação de embriões e não implica a necessidade imediata de espermatozoides. Além de preservar a autonomia reprodutiva da mulher, este é também um método promissor para programas de doação de ovócitos, uma vez que não necessita de concordância entre os ciclos da doadora e da recetora.

Os ovócitos vitrificados podem ficar guardados durante vários anos, sem que exista o risco de “envelhecerem” e só serão descongelados quando a mulher puder ou desejar engravidar para serem fecundados.

O primeiro caso com sucesso, registou-se  em 1986 mas, só a partir de 2005, com as novas técnicas de vitrificação é que foi possível melhorar os resultados, passando de um sistema de congelamento lento para um rapid-freezing. A vitrificação consiste em mergulhar o ovócito numa solução crioprotetora altamente concentrada diretamente no azoto líquido. Desta forma a desidratação ovocitária ocorre de modo rápido e imediato, diminuindo a formação de cristais de gelo no interior da célula. Esta é a técnica de vitrificação usada na Clinimer, parceiro do Centro Cirúrgico de Coimbra para as questões de infertilidade e de medicina de reprodução.

Marta Baptista

(embriologista)

Deixar um Comentário