A cirurgia foi inédita e os primeiros resultados observados justificam o empenho da equipa cirúrgica de Oftalmologia. O primeiro transplante duplo de córnea, em simultâneo, foi realizado no Centro Cirúrgico de Coimbra. Esta mesma cirurgia ainda incluiu uma vitrectomia e “limpeza” do fundo ocular, com extração de duas pedras de quartzo

O doente cegou com 13 anos de idade. No olho direito não tinha qualquer perceção luminosa e no olho esquerdo apenas distinguia sombras. Hoje, já conseguiu a autonomia que lhe permite andar sozinho e, na primeira observação, no dia seguinte à cirurgia, registou 10 por centro de visão. Espera-se mais da evolução que se segue.

Neste espaço de tempo, entre o acidente que sofreu em jovem e esta cirurgia a que agora foi sujeito no Centro Cirúrgico de Coimbra, o doente ainda foi intervencionado a uma catarata traumática, que acabou por descompensar ainda mais a função da córnea.

A opção desta cirurgia inédita foi feita tendo em conta todas as características particulares deste doente, completamente cego de um olho. Foi desse mesmo olho que se retirou a córnea, que se veio a transplantar no olho esquerdo, enquanto o olho cego iria receber a córnea de um dador, afastando assim a probabilidade de virem a surgir complicações por rejeição de tecidos, o que poderia comprometer a viabilidade do olho que ainda se podia recuperar.

O olho que ainda tinha alguma perceção de luz e lhe permitia distinguir sombras foi todo ele intervencionado, devolvendo-lhe a transparência necessária à visão, ao mesmo tempo que se retiravam alguns obstáculos que comprometiam a função. Além do transplante de córnea e ainda durante a mesma intervenção cirúrgica, este olho foi sujeito a uma vitrectomia, porque também era necessário limpar o vítreo que estava a opacificar, ao mesmo tempo que se procedeu à remoção de lente e saco capsular. Ainda no decorrer desta mesma intervenção cirúrgica, foram detetados dois fragmentos de quartzo, fruto do acidente de há 30 anos, tendo sido possível remover esses estilhaços de pedra, sem causar qualquer dano nas estruturas oculares.

Esta cirurgia demorou cerca de quatro horas e foi da responsabilidade da equipa de Oftalmologia do Centro Cirúrgico de Coimbra, Rui Proença, José Galveia, António Travassos e Sofia Travassos.

 

 

 

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